Transição energética: veículos elétricos transformam o futuro da mineração na Amazônia
Reportagem especial destaca como o uso de veículos elétricos está revolucionando a mineração na Amazônia, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis, reforçando como a transição energética diminui impactos ambientais e representa um passo importante rumo ao desenvolvimento sustentável na região.
Quarta, 08/10/2025, 08:00
Veículos elétricos, movidos a energia limpa e renovável, pareciam uma realidade muito distante. No entanto, esse cenário vem mudando e alcançando para além das ruas, chegando até o setor da mineração. No coração da Amazônia, onde a floresta encontra as frentes de extração de um dos minérios mais estratégicos do século 21, a transição energética começa a ganhar forma sobre rodas. Em Paragominas, no Pará, caminhões elétricos passaram a substituir veículos movidos a diesel nas operações de bauxita. A medida integra um esforço crescente do setor mineral para reduzir emissões de gases de efeito estufa, através de soluções que aliam tecnologia e sustentabilidade.
O alumínio está presente em quase todas as soluções de baixo carbono. Produzido a partir da bauxita, minério abundante em áreas da Amazônia, ele conecta o desafio climático global ao desenvolvimento da região. Por isso, a forma como é extraído torna-se tão importante quanto seu uso final. Um passo que já aponta para novos caminhos está na transformação das estradas de terra de Paragominas, onde caminhões elétricos já estão substituindo veículos a diesel nas operações de extração da bauxita. A iniciativa, implantada pela Hydro, a maior produtora de alumínio do Brasil, busca reduzir emissões de CO₂ e o impacto acústico nas áreas de operação, além de testar a viabilidade de novas tecnologias em ambientes desafiadores como o da floresta.
Tecnologias inovadoras para uma operação mais sustentável
Atualmente, quatro caminhões elétricos já estão em operação na Mineração Paragominas. São equipamentos de 60 toneladas, que atuam nas atividades de movimentação de minério, rejeito e também na infraestrutura da mina, possuindo duração da bateria entre 4 a 5 horas, e necessitando de apenas 40 a 60 minutos para fazer a recarga de até 100%, segundo explica Edil Pimentel, gerente de operações de mina da Mineração Paragominas.
“A nossa meta é reduzir 30% das emissões de carbono até 2030 e zerá-las até 2050. A empresa planeja um aumento significativo da frota elétrica. Em 2026, a frota vai ter mais 11 equipamentos, ou seja, no total teremos 15 caminhões, o que representa cerca de 20% dos equipamentos de transporte da mina”, adianta o gerente, reforçando que a implementação faz parte de uma estratégia de descarbonização mais ampla.
Além da eletrificação, outro investimento tem sido no aumento do porte dos caminhões a diesel para otimizar o consumo. “Começamos com caminhões de 36 toneladas, depois subimos para 70 toneladas, e agora estamos estudando caminhões ainda maiores. Entendemos que esse aumento de porte da frota traz uma melhoria na performance e, consequentemente, também uma redução no consumo de diesel e nas emissões CO₂”, explica Pimentel.
Para quem está na linha de frente, a mudança é notável. Isabela Ferreira, operadora de caminhões elétricos na Hydro há um ano, já sente a diferença durante suas atividades diárias.

O papel da mineração na transição energética
Daniel Sobrinho, diretor da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) e Engenheiro Eletricista, destaca que iniciativas como essas são exemplos reais de transição energética na Amazônia, evidenciando que é possível conciliar mineração, produção e compromisso com o meio ambiente.
"A Amazônia já era – antes da COP 30 ser realizada aqui – conhecida mundialmente como uma região estratégica para o debate climático. Iniciativas como a eletrificação da frota, por exemplo, demonstram que a transição energética pode acontecer em qualquer operação industrial. Substituir caminhões a diesel por elétricos, além de reduzir as emissões, melhora a qualidade do ar e mostra que é possível conciliar produção mineral com responsabilidade ambiental", destaca Sobrinho.
O especialista também pontua outros avanços positivos e operacionais na transição para a eletrificação no setor da mineração. “Pelo fato dos veículos serem mais silenciosos, melhora o ambiente de trabalho e reduz o incômodo em comunidades próximas, além de ser um diferencial para a empresa a nível nacional e internacional pela sustentabilidade de seus processos de produção, aumentando a sua competitividade”, avalia Daniel Sobrinho.
Deryck Martins, presidente do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) e Engenheiro Eletricista, também acredita que a transição energética desempenha um papel fundamental na mitigação das mudanças climáticas.
“Ao eliminar as emissões diretas de dióxido de carbono (CO2) e outros poluentes derivados da queima de diesel, reduz-se significativamente a liberação de gases de efeito estufa. Além disso, caminhões elétricos tendem a ser mais eficientes, necessitando de menos energia para executar as mesmas tarefas, o que potencializa os ganhos ambientais e minimiza os impactos das operações”, detalha ele.

Foto: FIEPA/Divulgação
Outro fator positivo apontado pelo presidente do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade da FIEPA quanto ao uso de caminhões elétricos é a contribuição direta para a melhoria da qualidade do ar nas proximidades das minas. “Eles eliminam emissões de poluentes atmosféricos prejudiciais, que podem comprometer a saúde dos ecossistemas locais. Com isso, há um impacto positivo sobre a fauna e a flora da região, fomentando um ambiente mais equilibrado e saudável tanto para os trabalhadores quanto para a biodiversidade local”, alerta.
O presidente do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade da FIEPA também ressalta que a origem da energia elétrica empregada no carregamento dos veículos é um fator essencial para maximizar os benefícios ambientais. “Caso a matriz energética seja composta predominantemente por fontes renováveis, como energia solar, eólica ou hídrica, o impacto positivo da eletrificação das operações é ainda maior. Investir em fontes de energia limpa é fundamental para potencializar os resultados”, aponta Deryck Martins.





COP 30: o papel como catalisadora da descarbonização
Em 2025, Belém se torna o centro das discussões globais sobre o clima e o meio ambiente. Sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30) coloca a Amazônia no meio do debate internacional e amplia a responsabilidade de todos os setores na adoção de práticas e soluções sustentáveis.
Na avaliação do diretor da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), o Pará deve atuar como um poderoso motor para acelerar a descarbonização na mineração.
"O protagonismo que o Pará terá por conta da COP 30, em Belém, vai gerar uma influência adicional para que as grandes empresas que atuam na região apresentem soluções concretas para redução de emissões e utilizem fontes sustentáveis de energia".
Daniel Sobrinho Diretor da Fiepa e Engenheiro EletricistaFoto: FIEPA/Divulgação

Segundo o engenheiro, a Conferência também irá promover um ambiente de grandes oportunidades. “A COP 30 na Amazônia deve impulsionar políticas públicas e regulatórias, além de estimular incentivos financeiros e parcerias internacionais que favoreçam empresas pioneiras em descarbonização, uma vez que o mercado está cada vez mais atento às questões ESG (Ambiental, Social e Governança)”, finaliza o diretor da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa).
A transição energética na mineração, exemplificada pela implementação de caminhões elétricos em Paragominas, é mais do que uma simples inovação tecnológica: é uma afirmação de que é possível conciliar desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental. Com a proximidade da COP 30, que colocará a Amazônia no centro dos debates globais climáticos, iniciativas voltadas para o meio ambiente se tornam ainda mais essenciais. O exemplo da Hydro, no Pará, não apenas destaca o potencial de transformação na mineração brasileira, mas também reforça a urgência de ações concretas para a redução de emissões de gases de efeito estufa. O impacto positivo dessa mudança, que vai além da diminuição de CO2, também reflete em benefícios operacionais e sociais, melhorando a qualidade de vida nas comunidades locais e abrindo portas para novas tecnologias e práticas sustentáveis no país, garantindo a preservação do planeta para as próximas gerações.

Mayra Monteiro
Reportagem e Fotografia
- Email:hojerijah@gmail.com

Andressa Ferreira
Edição e Coordenação Sênior

Ronald Sales
Coordenação Executiva
"Os caminhões elétricos são extremamente confortáveis, eles têm muita estabilidade, o que nos traz mais segurança na operação. A chegada dos caminhões elétricos, eu vejo como uma grande vantagem, além da importância que a empresa tem com a preocupação com o meio ambiente, com a diminuição do CO₂. Eu acredito que a implementação desses caminhões em outras empresas seria muito interessante para a diminuição de poluentes e também para a diminuição de custo de diesel".
Isabel Ferreira Operadora de caminhões elétricosFoto: Hydro/Divulgação