Reportagem Especial destaca a importância da bioeconomia impulsionada por mineradoras, fortalecendo o Pará como protagonista na agenda global pela Amazônia, através da mineração sustentável que mantém a floresta de pé.
Secas severas, ondas de calor, enchentes devastadoras, incêndios florestais, emissões de gases industriais. O planeta pede socorro e acende um grande alerta para a conscientização e a necessidade de ação global em prol da proteção urgente do meio ambiente que, também é, essencialmente, a proteção à saúde e à vida humana, uma relação que já não pode mais ser ignorada.
Já não são apenas números. São vidas de agora e das próximas gerações que precisam de práticas mais responsáveis da sociedade como um todo, que pedem gestão de políticas públicas e recursos que gerem mudanças radicais no cenário atual. A boa notícia é que empreendimentos com décadas de atividades já estão se comprometendo com a agenda ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governanças) em todas as suas etapas: meio ambiente, florestas, áreas de conservação, comunidades e povos originários. A atividade da mineração, por exemplo, está contribuindo para manter a floresta em pé na Amazônia.
Gracialda Ferreira é Engenheira Florestal, doutora em Botânica e professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Atualmente atua como diretora do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) desenvolvendo pesquisas em áreas de mineração há 13 anos. Ela destaca a importância do setor para o desenvolvimento do país, mas sobretudo, na garantia da conservação dos recursos naturais.
A mineração movimenta, tem um papel fundamental para que o país possa crescer, se desenvolver e se tornar uma potência usando e manejando os recursos que são naturais. Mas, a gente precisa trabalhar qualquer economia que envolve o uso de recursos naturais pensando no desenvolvimento sustentável, ou seja, garantindo sustentabilidade daquela ação em cima do recurso natural que está utilizando.
E é assim que algumas mineradoras do Pará já estão caminhando, como é o caso da Vale e da Mineração Rio do Norte (MRN), que já atuam com práticas e ações com vistas a um futuro sustentável para o setor.
A Vale – maior mineradora do Brasil e uma das maiores do mundo – que atua há mais de 40 anos na Amazônia, é a maior empresa em operação no bioma, especialmente na região do mosaico de Carajás, que tem seu epicentro em Parauapebas, e inclui Canaã dos Carajás, Marabá, Ourilândia, municípios todos localizados no Pará.
A Floresta Nacional de Carajás (Flona) é protegida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a Vale. O complexo de proteção ambiental – cujo uso é sustentável e são permitidas atividades econômicas – que inclui a Serra Norte e a Serra Sul, atualmente corresponde a 60% da produção de minério de ferro da Vale, se caracterizando como um “modelo de mineração sustentável”, uma vez que a atividade de extração impacta apenas pouco mais de 2% da área ocupada pelas atividades da empresa. A Flona se estende por 800 mil hectares, maior área de floresta contínua do sul e sudeste do Pará, equivalente a sete vezes o tamanho da cidade de Belém.
“A gente opera dentro de uma floresta nacional. A relação da Vale com a floresta é muito importante. Costumo dizer que a floresta é a nossa casa, é onde hoje a gente extrai boa parte da nossa produção, e a gente precisa viver em harmonia com esse ambiente. O meio ambiente para a Vale, para além de estar operando em uma relação de equilíbrio com a floresta, tem a ver também com a relação do entorno, com os ecossistemas, com a produção da água, a questão da regulação do clima, da produção de alimentos, a relação com a biodiversidade e tudo que esse ambiente proporciona quando está em equilíbrio. Nossos funcionários moram dentro dessa floresta, então, cuidar da floresta e cuidar da operação é também cuidar das pessoas que fazem parte de todo esse processo”, ressalta Patrícia Daros, diretora de soluções baseadas na natureza da mineradora, onde é responsável pelo Fundo Vale, implementando ações de investimento socioambiental corporativo na Amazônia e P&D (pesquisa e desenvolvimento) em sustentabilidade.
Patrícia Daros está na Vale desde 2011, onde já liderou equipes nos temas de planejamento ambiental com desenvolvimento de metodologias de Licença Social para Operar e Indicadores de Sustentabilidade de Projetos de Capital, além de processos relacionados à recuperação de áreas degradadas, áreas protegidas e biodiversidade. Desde 2003, vem trabalhando com temáticas relacionadas à sustentabilidade de cidades e territórios, com a implantação de iniciativas em mais de 35 municípios do Brasil. Para ela “a transformação social e ambiental só irá acontecer se todo mundo olhar para o mesmo caminho”.
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A diretora de soluções baseadas na natureza da Vale também destaca a importância de novas tecnologias e ações enérgicas e urgentes que vêm sendo adotadas ao longo de quatro décadas de atuação da mineradora, como grandes aliadas na sustentabilidade.
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Iniciativas que buscam conciliar desenvolvimento econômico com a conservação ambiental da Amazônia, bioma com maior diversidade do mundo e com papel fundamental para a sobrevivência do planeta, ganham destaque e estão diretamente ligadas aos esforços globais contra as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável.
Pode até parecer inconciliável para alguns, mas essa já é uma realidade no Pará, região onde novos negócios surgem como grandes incentivadores de práticas sustentáveis que reduzem impactos ambientais e sociais, além da construção de uma nova economia.
É o caso da Belterra Agroflorestas, uma startup que vem transformando áreas degradadas em florestas produtivas e nasceu com o apoio do Fundo Vale, visando promover o desenvolvimento sustentável na agricultura. A empresa, criada em 2020, também envolve pequenos e médios proprietários de terra para produzir – por meio de parceria em áreas com potencial de serem recuperadas – e tirarem sua renda, mas mantendo a floresta de pé.
O Fundo Vale investe em bioeconomia, como apoio a negócios que ajudam a manter a floresta em pé, que agregam valor e atraem investimentos aos produtos florestais.
Por meio da Jornada Amazônia, que estimula a criação e o desenvolvimento de startups que valorizam a floresta, foram mobilizados mais de quatro mil talentos empreendedores em nove estados e 211 municípios; encubados 200 negócios de impacto socioambiental e acelerados 21 empreendimentos para ganho de escala. A meta é criar 200 startups nos próximos três anos.
De acordo com Luiz Eduardo Quintella, diretor de novos negócios da Belterra, a implantação dos Sistemas Agroflorestais têm se mostrado um caminho eficiente para contribuição do modelo produtivo no Pará.
Hoje nós temos 4.000 hectares contratados em operação em diferentes níveis de implantação ou manejo de um sistema agroflorestal. Estamos entrando nosso primeiro ano de larga expansão, vamos contratar cinco mil, então já é um pulo grande. Estamos ganhando capacidade operacional, capacidade de protocolos operacionais para aguentar a necessidade de escala que a gente precisa. Eu acho que nesses quatro anos, a gente também viu muito mudar aquilo que a gente tinha como conceito inicial
Dentro desse cenário sustentável, o Fundo Vale entra como responsável pela implementação da Meta Florestal, compromisso da mineradora de reflorestar e proteger a floresta de pé, apoiando empresas e startups como a Belterra.
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Luiz Eduardo Quintella explica que os aportes de grandes empresas são aplicados em pequenos produtores, fazendo a transição de terras pouco produtivas para sistemas agroflorestais com grande potencial de armazenamento de carbono. Desde o início da parceria com a Vale, a startup conseguiu recuperar quase 3.000 hectares.
“Os sistemas se modernizaram, e hoje a gente já está muito avençado nos assuntos de carbono, de créditos de biodiversidade (forma de reconhecer e valorizar os serviços ecossistêmicos que a natureza oferece à humanidade). Uma evolução muito rápida, muito promissora. Acho que os resultados são colhidos com expansão das áreas, com aumento do time. Hoje são cerca de 400 pessoas trabalhando direto, duas mil pessoas envolvidas nos projetos da Bioterra e com mais de 450 produtores engajados, de pequenos, médios e grandes, um impacto muito grande que a gente vê e que muda a vida de muitas famílias, essa é a parte mais gratificante do nosso trabalho”, reforça o diretor de novos negócios da Belterra.
Proteger a floresta também faz parte do plano de ação da MRN, que conta com um programa de recuperação de áreas mineradas. Presente no Pará há 45 anos, já reflorestou 7.500 hectares, exclusivamente com espécies nativas. Além disso, o trabalho de restauração florestal também está diretamente ligado à geração de renda para os moradores das comunidades vizinhas.
“Isso foi possível graças à nossa capacidade de produzir mais de 1 milhão de mudas por ano, utilizando técnicas avançadas e específicas para a região Oeste do Pará, onde estamos localizados. Apenas no ano passado, reflorestamos 318,8 hectares com o plantio de 394.512 mudas de 98 espécies nativas, em um esforço conjunto que envolveu 60 comunitários locais. Compramos 4.893 kg de sementes de comunidades ribeirinhas e quilombolas, e, ao todo, produzimos 410.758 mudas em nosso Viveiro Florestal, sendo 49.491 delas de espécies ameaçadas, protegidas ou vulneráveis. No que diz respeito à biodiversidade, resgatamos e devolvemos à natureza mais de 13 mil espécimes de fauna e mais de 16 mil espécimes de flora”, destaca Vladimir Moreira, diretor de Sustentabilidade e Jurídico da MRN.
Na agenda ESG, Vladimir enfatiza a necessidade de mudar a matriz energética na mineração, visando um futuro mais sustentável. Diante desse cenário, a MRN integra o Comitê de Energias do IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), criado em 2019 no contexto da Carta Compromisso, agora atualizada como ESG da Mineração do Brasil, cuja meta é reduzir em 5% o consumo energético e aumentar o uso de fontes renováveis na matriz energética.
Seguimos critérios internacionais e incorporamos conceitos de sustentabilidade, direitos humanos e gestão da biodiversidade, que, juntos, formam o nosso modelo de mineração sustentável. Nosso foco é buscar estratégias que promovam a excelência operacional, mantendo a transparência e conformidade com os princípios ESG, que norteiam as políticas da empresa. Também realizamos diversos projetos que conciliam geração de renda e preservação ambiental, sempre com a participação ativa das comunidades vizinhas
O processo de recuperação de áreas mineradas é imprescindível. Diante desse cenário, tecnologia e inovação aparecem como grandes aliados e têm promovido importantes mudanças em vários setores, sobretudo na mineração. O momento pede adoção de práticas concretas, tangíveis e urgentes na busca por um mundo mais sustentável.
A engenheira florestal e professora da UFRA, Gracialda Ferreira, destaca a importância do uso de tecnologias existentes hoje, que são suficientes para mitigar, minimizar e até mesmo reverter os impactos gerados pelas atividades de mineração.
“A mineração neste processo de levar, de trazer conhecimento, de fornecer, de ser uma fonte geradora de conhecimento, é muito importante para a academia, para a ciência e para o país, pois nós precisamos conhecer a nossa biodiversidade e eu não estou falando apenas de planta. Estou falando de minério, de pessoas e povos que habitam. A gente precisa conhecer o que nós temos de recursos naturais para que a gente possa usar com sustentabilidade, que é a base para a conservação”, reforça a doutora em Botânica.
Para o diretor de novos negócios da Belterra, melhorar a vida agora e transformar o futuro é perceber que ganhos de produtividade e eficiência também devem estar alinhados com a redução de riscos e impactos socioambientais, conciliando aproveitamento econômico ao patrimônio cultural, ambiental e social.
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Os desafios globais, que perpassam por mudanças climáticas e desigualdades sociais, demandam uma reflexão profunda sobre o papel de cada um como transformador essencial para promover um futuro energético mais verde e responsável.
Jeferson Douglas Sousa, de 34 anos, é encarregado florestal. Vindo do Maranhão, onde trabalhava com os pais na roça, ele encontrou novas oportunidades na Vale, em Parauapebas, no Pará, em 2011, onde passou a ter o primeiro contato com a mineração.
“Cheguei apenas com a formação de nível médio e através das oportunidades que apareceram eu me formei em meio ambiente, trabalhando com a atividade ligada à mineração. A partir daí também formei em engenharia ambiental e tenho especialização em engenharia florestal, perícia e auditoria, envolvida e diretamente ligada a minha atividade, que é o recebimento de sementes nativas da região de uma cooperativa extrativista e esse material é destinado à produção de mudas para o reflorestamento. Pra mim é muito gratificante trabalhar nessa área e crescer a cada dia mais envolvido nesse trabalho que é tão grandioso que é o reflorestamento”, orgulha-se ele.
Casado, pai de duas meninas e ao longo de um pouco mais de uma década envolvido no trabalho de produção de mudas para o reflorestamento da Amazônia, Jeferson tem consciência da sua responsabilidade ambiental e do legado que quer deixar para as próximas gerações.
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A pesquisa “Mudanças climáticas na percepção dos brasileiros – 2022”, realizada pelo Instituto de Tecnologia e & Sociedade do Rio, que ouviu 2.600 brasileiros, maiores de 18 anos, de todas as regiões do país, apontou que 81% concordam totalmente que o desmatamento na Amazônia é uma ameaça para o clima e para o meio ambiente do planeta.
Promover a conscientização sobre questões ambientais importantes também está na pauta das Universidades, ONGs e agentes transformadores, que assumem um papel vital na criação de uma sociedade mais equitativa e justa.
Diante das mudanças climáticas, a Engenheira Florestal que desenvolve pesquisas em áreas de mineração há 13 anos, Gracialda Ferreira destaca a importância da “promoção de práticas ambientais sustentáveis e da proteção aos recursos naturais”.
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Assim como a Vale, ações da MRN têm gerado impactos profundos e positivos no Pará, ao fortalecer o relacionamento com as comunidades locais e garantir que os interesses dos moradores estejam também no centro das decisões da mineradora.
“Com investimentos que somam cerca de R$ 49,6 milhões em programas socioambientais, buscamos não apenas o desenvolvimento econômico, mas também a construção de um legado duradouro na Amazônia”, reforça Vladimir Moreira, diretor de Sustentabilidade e Jurídico da MRN, destacando que a mineradora também reconhece a educação como importante ferramenta de mudanças estruturais na região.
“Temos o compromisso de proporcionar oportunidades de aprendizado e crescimento profissional para as comunidades e, para isso, investimos em iniciativas educacionais de acesso à educação básica, ensino superior e qualificação profissional para as comunidades quilombolas e ribeirinhas”, explica Vladimir, destacando o Programa de Apoio ao Ensino Básico (PAEB), que proporciona o acesso integral de crianças e adolescentes quilombolas aos ensinos Fundamental II e médio, custodiando o material escolar, transporte e alimentação, onde somente em 2023, foram beneficiadas 130 crianças e jovens em um investimento de R$ 5,8 milhões.
“A gente também desenvolve o Programa de Apoio ao Ensino Superior (PAES). Ele é semelhante ao programa de apoio à educação básica, onde a MRN oferece bolsas de estudo e pagamento de um auxílio financeiro que ajuda em toda a trajetória acadêmica dos bolsistas”, detalha o diretor de Sustentabilidade e Jurídico da MRN.
Comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas de Oriximiná, Terra Santa e Faro, no Pará, também contam com ações de elevação de escolaridade e de qualificação profissional, por meio de iniciativas como o “Projeto Educação pela Amazônia”, também desenvolvido pela mineradora, além de cursos profissionalizantes ofertados em parceria com outras empresas.
“São alunos que buscamos capacitar para atuar na própria MRN ou de forma autônoma, incentivando a criação do próprio negócio e a geração de renda na região”, afirma Vladimir.
Indiscutivelmente, a atividade de mineração responsável, desenvolvida por grandes empresas, é um vetor de conservação ambiental. Basta analisar as unidades de proteção onde estão inseridas, ajudando e apoiando na manutenção dos biomas.
“Desenvolvemos várias iniciativas de responsabilidade social que garantem o bem-estar e os direitos das comunidades vizinhas. Essas ações refletem nosso compromisso em fortalecer o diálogo com a comunidade e promover o desenvolvimento sustentável na região. No ano passado, investimos mais de R$ 36 milhões em gestão ambiental, incluindo programas e projetos voltados para a preservação da Amazônia”, detalha Vladimir.
Especialistas e gestores de grandes mineradoras garantem que o setor já está passando por mudanças profundas e importantes, com foco em um futuro mais sustentável, e mostrando que é possível equilibrar a mineração com a responsabilidade social.
A engenheira florestal e professora da UFRA, Gracialda Ferreira, reforça que além de construir um legado para a região, as mineradoras devem promover práticas alinhadas à boa governança corporativa, ambiental e social, com operações que considerem o desenvolvimento econômico e a preservação da florestal em pé, como fatores essenciais para uma mineração sustentável.
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