MINERAÇÃO NA AMAZÔNIA: como a Inteligência Artificial ajuda a enfrentar a crise climática

Reportagem especial destaca como a inteligência artificial está sendo usada na mineração e no enfrentamento à emergência climática, combinando tecnologia e práticas sustentáveis, impactando comunidades, prevenindo desastres e mostrando que a Amazônia também é território de inovação.

Segunda, 06/10/2025, 08:00

A mineração no Pará tem passado por uma grande transformação impulsionada pela inteligência artificial (IA). O que antes representava muitas folhas com dados que demandava longo tempo para análise, hoje permite uma visão geral da operação em tempo real, com otimização que garante a sustentabilidade das suas operações com segurança e eficiência dos seus processos, além de facilitar a tomada de decisões e a otimização dos recursos.

No Pará, estado que abriga parte da Amazônia e enfrenta desafios ambientais – e onde a COP 30, em Belém, buscará dar voz às comunidades locais – a IA surge como ferramenta estratégica para conciliar produção com justiça climática. É o caso da Hydro – Alunorte, maior refinaria de alumina do mundo fora da China, localizada na cidade de Barcarena, que vem adotando ferramentas de IA para monitoramento ambiental, preservação da biodiversidade, redução das emissões de carbono e combate à crise climática, contribuindo para respostas rápidas e comunicação transparente com as populações ribeirinhas, povos tradicionais, comunidades locais.

José Carlos Sakai, gerente executivo de saúde, segurança e meio ambiente da Alunorte, explica que o grupo hoje conta com uma grande rede de dados. Para ele, usar a tecnologia ao favor é extremamente importante, principalmente para o direcionamentos dos recursos de forma adequada. 

“É importante você saber, de fato, onde precisa alocar recursos, porque a gente sabe que isso é finito, mas a gente precisa ser inteligente na aplicação de recursos, onde a gente quer implementar melhorias, novas tecnologias. Então, utilizamos a IA para depurar todos esses dados que a gente tem e são gigantescos”, explica Sakai, que está no grupo há 10 anos.

Monitoramento e análise com IA: Descarbonização e gestão de resíduos

De acordo com José Carlos Sakai, a Hydro tem metas rigorosas e desafiadoras direcionadas para a questão ambiental. “Até 2030, a expectativa global é atingir 30% de redução dos gases de efeito estufa e zerar até 2050. Hoje, em 2025, nós já estamos próximos de atingir 35%. E a inteligência artificial acaba nos ajudando nisso, a gente de fato está avançando com a visão de ser cada vez mais verde, de buscar e perseguir essas metas”, afirma ele. Dentre as medidas, chama atenção a implantação de três caldeiras elétricas para produção de vapor. Os equipamentos – os maiores do mercado – que operam com energia renovável têm emissão zero de carbono. Pesando 27 toneladas cada, trazem tecnologia de ponta, maior capacidade e confiabilidade operacional.

“Implementamos três caldeiras elétricas em um período curto de tempo, justamente para garantir uma melhor descarbonização, energia totalmente limpa. A Hydro e a Alunorte têm feito um trabalho muito forte nessa gestão, procurando cada vez mais essa descarbonização e investimentos em energia eólica, energia solar, energia cada vez mais limpa”, pontua o gerente executivo de saúde, segurança e meio ambiente da Alunorte.

Sustentabilidade e gestão ambiental baseada em dados

Soluções baseadas em IA otimizam e controlam o uso de equipamentos de mineração, como escavadeiras e caminhões, bem como aumentam a eficiência e reduz os custos, através de sistemas que podem monitorar o desempenho em tempo real por meio de análises de forma preventiva, ágil e eficiente, como explica o engenheiro de meio ambiente, André Carvalho, responsável por incrementar a IA na área.

Tecnologia gerencia impacto ambiental e transforma resíduo em recurso útil

O resíduo de bauxita, gerado após o beneficiamento do minério de bauxita para obtenção da alumina, principal matéria-prima na produção do alumínio, será transformado em recurso útil através de uma tecnologia pioneira e inovadora. Chamada de Tailings Dry Backfill, a técnica permitirá que os rejeitos passem pelo processo de secagem e sejam levados de volta às áreas mineradas antes da reabilitação. A planta de processamento, inicialmente terá capacidade para processar 50.000 toneladas de resíduos de bauxita por ano.

O método inovador – reconhecido por patentes verdes concedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial – visa converter resíduos em recursos positivos para a humanidade e para o meio ambiente.

“A Hydro tem muito a mostrar o que tem sido feito no Pará. São muitos investimentos, seja em descarbonização, seja em gestão de resíduos, isso é um ponto muito importante dentro da pauta de desenvolvimento sustentável. Esse é um projeto extremamente desafiador e uma grande iniciativa, se a gente olhar como mundo, porque ninguém hoje conseguiu desenvolver uma tecnologia que pudesse reduzir a questão dos resíduos de bauxita. É uma planta que está sendo implementada, prevista para iniciar nos próximos anos, mas é uma tecnologia totalmente inovadora e sustentável, algo extremamente novo dentro do setor minero-metalúrgico, é algo que realmente chama atenção e mostra o quanto temos feito investimentos nessa área ambiental e com foco na inovação, trazendo um legado muito forte para Barcarena, para o Pará, para o Brasil e para o mundo".

JOSÉ CARLOS SAKAI gerente executivo de saúde, segurança e meio ambiente da Alunorte..
Foto: Hydro/Divulgação

COP 30: um legado para Amazônia
e para o mundo

A escolha de Belém para sediar a COP 30 representa uma oportunidade estratégica de amplificar a voz da Amazônia no cenário climático global. A expectativa é de que a conferência possa impulsionar políticas de mitigação e adaptação para a região, com o apoio da IA na modelagem climática local, monitoramento de uso de terra e governança participativa.

O secretário adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas), Rodolpho Zahluth Bastos, reforça que o Pará vem se consolidando como um polo estratégico na mineração responsável e, para ele, esse posicionamento está sendo cada vez mais reforçado pelo uso de tecnologias avançadas e pela adoção de práticas sustentáveis que dialogam diretamente com os compromissos climáticos da COP 30.

“O Estado tem compelido empresas a operar com tecnologias mais limpas e incentivado boas práticas associadas a políticas e estratégias ESG (Ambiental, Social e Governança), como reflorestamento de áreas mineradas e uso de técnicas de recuperação de solo; uso de energia solar e biomassa nas operações de mineração; redução do uso de água por meio de sistemas de reuso de tratamento avançado; uso de rejeitos da mineração como matéria-prima na fabricação de materiais da construção civil, promovendo a economia circular. Além disso, o Pará é um dos maiores produtores de minérios essenciais à transição energética, tais como a bauxita (alumínio), usada em carros elétricos e painéis solares, e o níquel e cobre, cruciais para baterias e infraestruturas de energia limpa. Esses recursos são fundamentais para a descarbonização da economia global, uma das metas centrais da conferência do clima”, destaca Rodolpho Zahluth Bastos.

A expectativa é de que a COP 30 promova parcerias entre setor mineral, governo, universidades e comunidades tradicionais, fortalecendo capacitação digital, tecnologia e inclusão de comunidades na formulação de compromissos internacionais direcionados à proteção da Amazônia. Diante desse contexto, o Pará, segundo o secretário adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas), ocupa um papel estratégico no cenário nacional e internacional ao aliar desenvolvimento econômico com a atividade mineral, sendo um dos principais polos de mineração do Brasil.

“Atualmente, o Estado se destaca por sua riqueza em recursos naturais, especialmente minérios como ferro, bauxita, cobre, manganês, níquel e ouro, e por ser sede de grandes projetos minerais conduzidos por empresas privadas. O Pará é o maior exportador de minérios do Brasil, com destaque para o ferro, cuja maior parte é extraída em Carajás, no sudeste do estado. Em 2024, por exemplo, respondeu por mais de 40% da produção mineral brasileira, com uma movimentação superior a R$ 100 bilhões no setor”.

Rodolpho Zahluth Bastos Secretário adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental da SEMAS.
Foto: SEMAS/Divulgação

A adoção responsável da IA na mineração paraense tem potencial não apenas de reduzir os impactos ambientais, mas melhorar a governança e promover justiça climática. Para o secretário adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental da SEMAS, a valorização de modelos sustentáveis na mineração pode funcionar como um forte catalisador para políticas públicas e investimentos verdes no Pará, especialmente com a visibilidade e a mobilização promovidas pela COP 30.

“A conferência traz atenção nacional e internacional para Belém e para o Pará. Modelos bem-sucedidos de sustentabilidade local podem servir de vitrine, mostrando que boas práticas podem e devem ser escaladas por mecanismos de financiamento climático que estimulem modelos eficazes de mineração sustentável. Além disso, o debate técnico e científico que acompanha a COP permite que sejam trocadas experiências de outras regiões ou países, que podem ser adaptadas ao contexto paraense. Isso, favorece a adoção de boas práticas, notadamente ações de impacto social positivo, inovações tecnológicas e arranjos de financiamento climático já consolidados”, finaliza Rodolpho Zahluth Bastos.

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Andressa Ferreira

Reportagem e Coordenação Sênior

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Gustavo Dutra

Coordenação Sênior

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Coordenação Executiva