Os impactos da mineração sustentável no ambiente aquático na Amazônia

Reportagem especial traz uma abordagem sobre a inovação que respeita o rio, através de práticas sustentáveis que avaliam impactos, reduzem riscos e fortalecem a biodiversidade no Pará, mostrando que a mineração e o progresso podem andar de mãos dadas com o meio ambiente.

Sábado, 27/09/2025, 10:10

O que já foi uma área onde rejeitos da lavagem de minério foram lançados, uma espécie de aterro de argila vermelha, lama aquosa, sem material orgânico e sem vida, hoje emerge como uma solução inovadora e concreta para os desafios climáticos, um marco inspirador na história da mineração sustentável no Pará.

Pode até parecer um “milagre”, mas trafegar pelo Lago Batata, localizado no rio Trombetas, no município de Oriximiná, é uma realidade que simboliza não apenas a relação entre mineração sustentável e recuperação ambiental, mas a certeza de que atividade econômica e cuidado com o ecossistema podem e devem caminhar juntos.

Restauração ecológica: um modelo de gestão ambiental no Pará

Impactado por rejeito de bauxita, na época em que não havia legislação clara para a preservação ambiental, o Lago Batata – que um dia chegou a parecer um aterro compacto e concreto com a morte de áreas de igapó e impactos na flora e fauna – conseguiu reverter os impactos negativos na região, restaurando 120 hectares de mata de igapó degradada, área equivalente a 111 campos de futebol. A iniciativa é resultado do compromisso e do amplo programa de recuperação conduzido pela Mineração Rio Norte (MRN), uma das maiores mineradoras do Pará, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialistas e comunidades, e mostra na prática como a mineração pode contribuir diretamente para o equilíbrio ecológico ambiental, através de investimentos em tecnologias de baixo impacto e iniciativas voltadas ao reflorestamento e manejo de resíduos, descarbonização, conservação da biodiversidade e desenvolvimento social na Amazônia.

120 hectares

de mata de igapó vegetalizados

(1.200.000 m²)

Que equivalem a 111 campos de futebol

171 espécies

de peixes registradas

Com base no esforço de pesca de comunitários.

Monitoramento realizado pela comunidade

+ 0 Mil

Mudas de espécies de igapó plantadas.

+ 0 Mil

Mudas de espécies de igapó plantadas.

Para Marco Antonio Fernandez, Gerente de Licenciamento de Controles Ambientais – MRN, o Lago Batata desponta como uma solução multifacetada, alinhada com os princípios de uma economia verde, que promove a sustentabilidade a partir da reintegração dos ecossistemas. Ele lembra como foi o pontapé inicial da proposta.

“Foram procuradas pessoas que já eram referências na recuperação de lagos. E uma dessas pessoas encontradas foi o professor Francisco Esteves, que naquela época já era uma referência e continua sendo uma referência até hoje. O professor e sua equipe vêm liderando esse processo de restauração ecológica do lago. Vários pesquisadores foram envolvidos ao longo desses 35 anos. Hoje, a gente tem muita segurança exatamente com base em tantos estudos e pesquisas, de que o lago já está em um estado muito avançado de restauração ecológica. A gente tem buscado refinamentos, oportunidades e melhorias nesse processo que já está bem avançado, mas é importante continuar. É importante para nós, é importante para a comunidade local e também para a comunidade científica”, destaca Marco Antonio Fernandez.

Com a intensificação das mudanças climáticas e a pressão sobre os ecossistemas amazônicos, o Lago Batata – hoje repleto de flores, frutos, aves e répteis – se revela como uma solução pioneira que vai além da mitigação dos danos, ao criar um novo ecossistema capaz de regenerar a biodiversidade local e contribuir para o fortalecimento da economia regional. Ao transformar uma área de mineração em um lago, a MRN demonstra não apenas a preocupação com o legado que deixa para as futuras gerações e com o impacto de suas operações no meio ambiente, além de criar um espaço que favorece a biodiversidade e o uso sustentável dos recursos hídricos, ao mesmo tempo em que gera oportunidades para a economia local.

O biólogo Francisco de Assis Esteves, doutor em Limnologia, pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), reforça que o modelo de gestão ambiental bem-sucedido é fruto de pesquisas ecológicas desenvolvidas há décadas, “que vêm dando suporte para a tomada de decisões e a aplicação de tecnologias baseadas na natureza, visando a restauração ambiental”.

O biólogo Francisco de Assis destaca que o Lago Batata é um modelo de gestão ambiental bem-sucedido. Foto/MRN/Divulgação

Com a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em Belém, pela primeira vez na região amazônica, o coração da maior floresta tropical do mundo é colocado no centro das discussões globais sobre mudanças climáticas, representando um marco histórico não apenas para o Brasil, mas para todo o planeta. A escolha, que só reforça a urgência de proteger a Amazônia, um bioma essencial para o equilíbrio climático da Terra, vem como uma oportunidade única para que o mundo dialogue e reforce seu compromisso real com a justiça climática, reconhecendo o protagonismo das populações amazônidas na luta contra o aquecimento global e destacando a necessidade de soluções sustentáveis que conciliem preservação ambiental com desenvolvimento socioeconômico. Diante desse cenário, o Lago Batata emerge como um modelo de como a mineração pode ser integrada ao desenvolvimento sustentável.

A criação do lago artificial não apenas restaura os ciclos naturais e contribui para o combate aos efeitos da mudança climática, como inclui a preservação das florestas e o equilíbrio das águas, além de proporcionar à comunidade local novas fontes de renda e garantir a preservação do ambiente ao longo do tempo. É o caso da Maria do Socorro Pereira, moradora do Lago Batata e participante do Projeto de Sistemas Agroflorestais (SAFs), beneficiada pelas atividades da MRN, através das consultas participativas em sua comunidade. “A gente tem aprendido coisas novas. Aprendi a fazer enxertos no viveiro que tenho, cultivando plantas saudáveis que em poucos dias já estão frutificando”, celebra ela.

ENTENDA O CASO | Linha do Tempo da Restauração do Lago Batata

1979

Início da operação da MRN.

1989

Interrupção do lançamento de rejeito no Lago Batata e início do Programa de Monitoramento e Estudos Ecológicos do Lago Batata.

1990

Estudos baseados no esforço de pesca na região mostraram a presença de 69 espécies de peixe na área que recebeu rejeito.

1992

Após primeiras intervenções, constatação de acúmulo de matéria orgânica e sementes de espécies de árvores na área de igapó impactada.

1993

Início do plantio de mudas do Viveiro Florestal da MRN para regeneração de áreas de igapó.

1997

Início do cultivo de arroz bravo sobre o rejeito compactado para produção de nutrientes.

2000

Mais de 200 mil mudas plantadas em mais de 58 hectares.

2005

MRN amplia ações junto às comunidades com Projeto de Apoio a Sistemas Agroflorestais.

2007

Constatação de novas espécies arbóreas de igapó na área impactada.

2009

Constatação da redução dos níveis de turbidez da água e melhoria das condições ecológicas.

2021

Mais de 800 mil mudas plantadas para restauração de área de igapó.

2023

Mais de 171 espécies de peixes na área impactada. Árvores já produzem flores e frutos, presença de insetos, répteis e pássaros em grande escala.

2024

Investimento acumulado na restauração ecológica do Batata supera R$ 31,5 milhões.

Lago Batata: solução para o desafio climático e desenvolvimento da Amazônia

O Lago Batata se posiciona como uma proposta concreta e inovadora, um símbolo de como é possível reverter os danos ambientais provocados pela atividade humana, dando exemplo de como a mineração, quando bem gerida, pode ser um agente de transformação positiva. Além disso, a iniciativa é um reflexo do potencial transformador e uma prova de que é possível equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental, através de investimentos na inovação e no uso de tecnologias para garantir que suas operações sejam cada vez mais sustentáveis e que reflitam no bem-estar das comunidades locais e na saúde do meio ambiente, com uma abordagem integrada que pode servir de espelho e replicada no setor mineral, ajudando a construir um futuro mais justo, equilibrado, saudável para as gerações vindouras e, essencial para garantir que a Amazônia possa se manter como um pilar fundamental para a regulação climática global.

Lago Batata. Foto/Emerson Coe

Para Vladimir Moreira, diretor de Sustentabilidade e Jurídico da MRN, esse modelo, que concilia ciência, transparência e restauração de ecossistemas complexos, sem abrir mão do desenvolvimento econômico, dialoga diretamente com as metas globais que estarão em pauta na COP 30.

“A restauração do Lago Batata tornou-se referência internacional em recuperação ambiental, sendo o primeiro estudo voltado à reabilitação de um lago amazônico com ecossistema heterogêneo e alta biodiversidade. A trajetória demonstra que, cada vez mais, evoluímos em eficiência no que diz respeito ao monitoramento, conservação ambiental, restauração ecológica e mitigação de impactos, reforçando o Pará como referência global nesse modelo na Amazônia”, enfatiza Vladimir Moreira.

Lago Batata. Foto/Emerson Coe

O diretor de Sustentabilidade e Jurídico da MRN também pontua que o Pará reúne duas vocações estratégicas: é, ao mesmo tempo, um estado minerador e uma potência ambiental. Para ele, “essa dupla identidade torna essencial conciliar a exploração das riquezas do subsolo com a preservação dos ecossistemas que estão acima dele”.

“Com mais de quatro décadas de atuação na Amazônia, a MRN tem convicção de que a convivência positiva entre mineração e conservação não só é possível, como deve ser o caminho para consolidar o Pará como referência mundial em desenvolvimento sustentável. Essa experiência pode inspirar políticas públicas mais robustas, voltadas para a prevenção e redução de impactos ambientais desde a concepção dos projetos, além de incentivar investimentos verdes que fortaleçam a economia e protejam os ecossistemas amazônicos. Durante a COP 30, esperamos que iniciativas como a do Lago Batata sirvam de referência para decisões estratégicas, promovendo um Pará mais sustentável e competitivo, capaz de atrair recursos e tecnologias alinhadas às metas climáticas globais”, conclui.

Mineração e o compromisso com
práticas responsáveis

Além do Lago Batata, um dos marcos da jornada da MRN é o Projeto Linha de Transmissão (PLT), que conectara à mineradora ao Sistema Interligado Nacional (SIN). O objetivo é substituir a geração local de energia por fontes mais limpas, garantindo a redução nas emissões de carbono e a sustentabilidade ambiental na geração de energia.

Para o gerente geral de projetos na MRN, Yanto Araújo, o projeto marca o compromisso da mineradora com o processo de descarbonização do setor mineral, uma que uma vez que a empresa – que já gera 90% de sua energia internamente – está implementando mudanças significativas para minimizar o uso de combustíveis fósseis e aumentar a eficiência energética.

A importância do projeto vai além da mera geração de energia. Ele representa um compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental, ao mesmo tempo que busca garantir a viabilidade econômica. Com a previsão de evitar a emissão de 2,1 milhões de toneladas de CO2 nos próximos 15 anos, o projeto é comparável ao impacto positivo de manter 8 mil hectares de floresta”, explica Yanto, que tem larga experiência em gestão de projetos de mineração com mais de 15 anos de atividades no setor.

Yanto Araújo Gerente geral de projetos na Mineradora Rio Norte

A trajetória de práticas responsáveis das mineradoras no Pará não é apenas uma exigência regulatória, mas uma responsabilidade estratégica para a proteção de ecossistemas, redução de vulnerabilidades climáticas e promoção de desenvolvimento sustentável. Especialistas são categóricos ao reforçar que, com persistência em governança ambiental inovação tecnológica e participação social, é possível avançar rumo a operações mais eficientes, transparentes e compatíveis com os compromissos climáticos globais, beneficiando tanto a região quanto o planeta.

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Andressa Ferreira

Reportagem e Coordenação Sênior

Emerson Coe

Fotos e Multimídia

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Gustavo Dutra

Coordenação Sênior

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Ronald Sales

Coordenação Executiva